A história que contarei aqui, tem elementos fictícios (pouquíssimos por sinal) e deverá ser lido com humor moderado e um pouco de imaginação para que vocês possam ilustrar a história que vou contar.
A conversão de nomes, fatos e personagens é livre e qualquer semelhança com aconteceimentos e personagens reais, terá sido mera coincidência.
Em Sarval, uma cidade do interior de Minas, que acaba de construir um aeroporto e aguarda pela chegada dos aeroplanos modernos anunciados aos quatro cantos, um vigilante do dito campo de pouso, interrompido no seu já habitual cochilo, recebe uma ligação do centro de vigilância aérea nacional (no aeroporto local moderno não existe rádio para comunicação):
- ... .uuuuuuurgggghhhhh!!! Alô???!!!
E do outro lado:
- Alô! Aqui é do centro de controle aéreo nacional. Posso falar com o responsável pelo aeroporto?
O atendente, pensativo e buscando na memória algum nome que pudesse levá-lo a identificar a pessoa pretendida pelo interlocutor, acha uma resposta prática:
- Ele não está!
Então, do outro lado da linha, ele ouve uma informação inebriante:
- Quero avisá-lo que um voo internacional está entrando no espaço aéreo brasileiro, com destino à cidade de Sarval e que irá, em aproximadamente 3 horas, pousar no aeroporto local. Confirmando: chegada a Sarval em 3 horas de um voo internacional. Obrigado!...TU...TU...TU...
O vigia, ainda embriagado de sono e com a notícia, esfregou os olhos e pensou: ... “o que é que eu faço agora?”. De supetão, pegou o telefone e ligou para a prefeitura da cidade para comunicar a chegada dos tais gringos a bordo da aeronave estrangeira. Do outro lado, um assessor da prefeita, sabendo que ela não se encontrava na cidade, disse que iria entrar em contato com a alcaide e que iria tomar providências para a visita ilustre ao município. Meia hora depois, o vigia, que a toda hora saia de sua sala para olhar no céu para tentar avistar algum sinal do dito voo, recebe uma ligação:
-...uuuuurrggggghhhh!! Alô???!!!
O assessor da prefeita, em uma rápida frase, avisa:
- O presidente da Câmara Municipal (popularmente conhecido em Sarval como Chuvisco) vai estar aí em poucos minutos. Prepare tudo aí com urgência, disse o assessor que imediatamente desligou o telefone.
Passada meia hora do telefonema, chegam ao aeroporto da cidade o presidente da Câmara, Chuvisco, e alguns assessores que iriam auxiliá-lo na recepção ao voo gringo. Câmeras fotográficas foram preparadas para o registro do fato que seria o grande comentário do fim de ano. Chuvisco, entre um pensamento e outro, visionava: “... já pensou!!! eu recebendo em minha cidade o primeiro voo internacional da história de Sarval!!! Será que é um grande empresário vindo conhecer a cidade para investir aqui?!!... Entrarei para os anais da história municipal! Eita!!!”, divagava o presidente em seus pensamentos lúdicos.
Com o sol a pino, os olhares não deixavam de mirar o azul daquela manhã de segunda-feira. Um assessor, meio desconfiado do papel do presidente, chega próximo dele e pergunta:
- Presidente... aqui... o senhor me desculpa mas, ... .o que o senhor vai falar pra eles quando eles descerem do avião?!
Rapidamente, sem pestanejar, olhando para os céus à procura de um sinal do dito avião, e mostrando a tranquilidade que o caso pedia, Chuvisco respondeu sem mesmo olhar para o assessor:
- Que língua eles falam? Alguém sabe???!
O assessor, coçando a cabeça e sem saber ao certo, arriscou:
- Se tá vindo para cá, eles devem falar “casteliano”!!!
Ainda sem tirar os olhos do céu azul, o presidente respondeu com um ar de domínio:
- Claro que a primeira palavra que vou falar será “Welcome”. Depois a conversa vai “fruindo” fácil.
Com a resposta e a confiança passada pelo presidente, o assessor, para caso fosse interpelado pelos tripulantes do voo, saiu treinando a pronúncia da palavra dita pelo presidente:
- Ueucomi... ueucomi... ueucomi... ueucomi...
Já com o adiantado das horas, eis que um ronco corta os céus da cidade. Assessores começaram a se movimentar, máquinas foram preparadas e a roupa do presidente devidamente ajeitada para o tão esperado encontro. O avião passa pela cidade, e, de certa forma, deixa o presidente frustrado. O avião não era pequeno, mas não era grande também. Ao tocar o solo foi um frenesi. Todos comemoravam a chegada do primeiro voo internacional a Sarval.
- ÊÊÊÊÊÊÊEÊ!!! …clap! clap! clap! clap!!!, gritavam e aplaudiam os assessores que acompanhavam o presidente.
O avião, já em “solo brasileiro e sarvalense”, vem pela pista devagar e, na contramão do aeroplano, a ansiedade de todos para a visita, até então ilustre ao município, aumentava a cada segundo.
Quando o avião chega próximo do local de desembarque, todos se aproximaram da aeronave para fazer uma recepção calorosa aos ilustres visitantes. O assessor do presidente, preocupado em não fazer feio frente aos visitantes, murmurava:
- A palavra que eu tenho que falar é uelcomi... uelcomi.
Eis que vem o desfecho inusitado. Ao abrir a porta do pássaro de ferro, como diria os índios em seus avistamentos, eis que de lá surge Carlos Roberto Ferreira e sua família. O empresário e também ex-prefeito de Sarval, inimigo político da prefeita da cidade e do presidente da Câmara, Chuvisco, salta da aeronave com seu tradicional óculos escuro. Foi um desconforto só.
O voo internacional era na verdade o retorno a Sarval do empresário local que fora passear num paraíso de águas quentes na América Central.
Sem saber o que estava acontecendo, o empresário chegou a pensar coisas boas e ruins que poderiam estar acontecendo a seu respeito e desceu meio que sem saber o que aquelas pessoas estariam fazendo ali. Ao olhar ao redor, mirou para um dos que estavam com cara de desconserto e pensou no que dizer. Sem muito o que propalar, arriscou um cumprimento curto e cheio de dúvidas:
- ????????... Bão fio???!!!
Com as caras caídas no chão, as autoridades e assessores saíram murchinhos do aeroporto com ar de que pagaram um mico histórico.
O empresário foi embora sem saber o que tinha acontecido.
O presidente, Chuvisco, se pudesse, fazia um buraco no chão e enfiava a cabeça para não enxergar o mundo mais..
O assessor teve que guardar a palavra treinada com sacrifício para uma outra oportunidade.
Já o vigia, voltou para seu local de trabalho sem saber o que teria acontecido, já que ele não é de Sarval, e voltou a ouvir os pássaros que hora e meia gorgojeiam por ali e ao seu cochilo habitual, no aeroporto de Sarval.
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